domingo, fevereiro 05, 2006

Quando abriu os olhos não conseguiu distinguir onde estava. Apenas teve certeza que aquela não era a sua cama e nem uma outra que ele estivesse acostumado a freqüentar. Na realidade não se assombrou, pois não era a primeira vez que acordava em cama de outrem sem certeza de como parara lá. Certo que em alguns instantes a memória iria voltar e, sem muito custo, lembraria até do nome da dona da cama. De qualquer forma a dona da cama tinha bom gosto, pois além de colocá-lo nela ainda possuía lençóis macios e travesseiro fofo. Resolveu virar-se e, já que a sua memória não resolveu ajudá-lo, recorrer a memória visual. Vendo a moça certamente recordar-se-ia com mais facilidade da noite. Virou-se apenas esperando que seu gosto não houvesse lhe traído. Ela não estava lá. Olhou em volta e percebeu que aquele quarto não parecia muito feminino. Besteira, hoje muitas mulheres tem quartos neutros, não existem mais diferenças entre quartos masculinos e femininos depois de uma certa idade. A bem da verdade parecia um quarto de casal, um guarda roupas enorme e outros detalhes que lhe fizeram ter certeza que havia se metido em uma fria outra vez. Tentou forçar a mente para os acontecimentos da noite anterior, a bebedeira não podia ser tanta. Porém, não conseguia recordar-se nem sequer de ter saído. Refez no cérebro os acontecimentos desde que saíra do trabalho. Passara no mercado e comprará um vinho tinto e ingredientes para preparar um macarrão. Sim, na noite anterior a Soninha iria jantar em sua casa. Logo que chegou em casa a Soninha ligou dizendo que sua prima de Minas havia chegado de surpresa e que o jantar teria que ser adiado. Ligou para o Alberto para ver qual seria a boa, mas ele se desculpou e disse que como achou que iria rolar o esquema com a Soninha havia marcado de ir ao cinema com aquela moça da cafeteria e que se desmarcasse perderia a oportunidade de descobrir se além dos olhos ela tinha a pintinha da Angélica. Ficara puto e desanimado, abrira o vinho e fora passar o tempo no computador. Lembrava que perto da uma desistira de conseguir um programa promissor na Internet e fora deitar. Lembrava-se de ter escovado os dentes, tomado uma chuveirada e deitado em sua cama. Isso era ridículo, ele lembrava de ter se deitado em sua cama, em seu quarto e acordara naquele quarto estranho. Não, ele não saíra, não bebera horrores e dormira com uma desconhecida. Ele fora dormir como um bom moço,sozinho, em sua própria cama. Ou ele virara sonâmbulo de uma hora para outra ou algo muito fora do normal havia acontecido naquela madrugada. De qualquer forma, percebeu que não iria chegar muito longe deitado naquela cama, se existia alguma explicação deveria estar fora dali. Levando da cama e foi procurar suas roupas, apenas encontrou uma calça de pijama que, certamente, não lhe pertencia. Todavia, a vestiu, pois enfrentar o desconhecido nu já era demais. Saindo do quarto viu que a peça do lado era um quarto de criança, um quarto bem decorado, cheio de frufrus e havia outra peça com a porta fechada. Seja lá a maluquice em que havia se envolvido ela, certamente, contava com uma mulher casada. Chegou a temer dar de cara com um marido pela casa, mas não poderia ficar para sempre trancado em um quarto estranho. Desceu as escadas e notou que havia movimento do que parecia ser a cozinha, resolveu ir até lá. Uma mulher de seus quarenta anos cozinhava. Quando se virou seu rosto pareceu familiar, mas logo percebeu que era apenas impressão. A mulher tinha os ares da Soninha, mas uns quinze anos mais velha. Teria eu dormido com a irmã mais velha da Soninha? Besteira, devo estar louco. Antes que pudesse pergunta algo, a mulher começou a falar. Amor, achei que nunca irias acordar. Lembra que ficaste de pegar o Junior no futebol? A Ritinha foi para a casa da mamãe. Achei que não irias te importar. Tudo bem? Está com uma cara estranha... Deixou a mulher falando sozinha e foi procurar um banheiro, precisava lavar o rosto e acordar. Aquilo era um sonho, certamente ainda estava dormindo. Banheiro encontrado, fechou os olhos e meteu a cabeça dentro da pia, quando abrisse os olhos estaria em sua cama, em seu quarto, em seu apartamento. Ao abrir os olhos continuava no mesmo lugar, levantou a cabeça e deu de cara com sua imagem no espelho. A imagem também era estranha.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Isso aqui tá muito bom!
Bom Messssssmo.

7/2/06 23:53  

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