Bom, a vida começou. Eu não ando nos meus melhores dias. O corpo ainda não se acostumou com o ritmo novo e a cabeça também não anda colaborando. Na realidade, os fatos também não. Fico pensando quando terei vida de verdade. Será que passada a faculdade terei horários decentes? Olhando os profissionais a minha volta temo que não. Estava pensando sobre a vida, que eu acho tão diferente, das cidades do interior. Não sei até que ponto não invejo a vida sem bons cinemas e todas as tele entregas. Vendo os meus tios que dão uma passada em casa entre uma coisa e outra para ver as filhas, que almoçam em casa e depois cochilam antes de ir trabalhar. Certo que é uma vida menos stressante, certo que é outro clima. Não consigo lembrar-me da minha mãe almoçando em casa em dia de trabalho, a exceção de datas muito comemorativas. Esse ritmo de sair cedo e voltar tarde, de não ver os familiares, de acumular tudo para o fim de semana, esse ritmo que a minha vida anda há já algum tempo, vale a pena? Parece que estamos correndo para que mais adiante tenhamos mais calma, mas será que o período de calma um dia vem? E se virá não será tarde demais? Vou correr até terminar a faculdade, aí vou correr para fazer um mestrado, então correrei para ter condições financeiras, no meio da corrida sou capaz de casar, ter filhos e correr mais para pagar um bom colégio, para que nada falte em casa, para a casa estar limpa e bonita. Então um dia não terei mais que correr, terei os dias mais livres e poderei aproveitar. Provavelmente, então, terei tempo de sobra para amargurar-me pelos filhos que não vi crescer, pelos amores que não aproveitei como devia, pelos momentos desperdiçados. Vejo que não é isso que quero, não desejo, um dia poder parar e ver que o tempo passou e que perdi muito da vida para um dia poder parar. Talvez eu esteja sendo trágica, talvez não. Não sei de nada. Só sei que não gosto dessa idéia, só sei que tenho visto as pessoas correrem sem parar para ter uma vida melhor, só me questiono que vida melhor é essa.