sábado, julho 22, 2006

As mãos cheias de sacolas, respiração cansada, um certo medo. Ninguém consegue andar tranqüilo depois que escurece. Fica aquela dúvida, aquela incerteza de o que vai se encontrar na próxima esquina. Aquela sombra distante pode ser um cidadão honesto voltando para casa, um assaltante procurando uma bolsa fácil de levar ou até um estuprador. Depois de uma reportagem do fantástico sobre as vitimas preferidas isso andava lhe preocupando mais do que habitualmente. Chegou a pensar em cortar as madeixas, já que a estrutura física era impossível de mudar. No início da semana havia até ligado para saber informações sobre aulas de defesa pessoal, mas isso ainda não existia uma brecha no orçamento que possibilitasse esse investimento. Continuava frágil, pequena e ainda por cima de saia e rabo de cavalo. Se deu conta que era a imagem perfeita de vítima pintada no programa da semana anterior. Chegou a pensar em soltar os cabelos, mas com todas aquelas sacolas teria que parar para isso e parar não lhe pareceu nada seguro. Olhou em volta e sentiu calafrios, pensou que se algo acontecesse não adiantaria muito gritar. Naquelas casas comerciais fechadas não haveria quem a ouvisse. Sabia que se gritasse era melhor gritar fogo do que socorro; porém, para isso causar efeito teria que ter alguém para escutar. Isso que dá ficar até tarde no trabalho, caso alguma coisa acontecesse ninguém a indenizará por ter passado da hora para fechar relatórios. Isso que dá não ter pego um táxi, esta mania de poupar é péssima em momentos assim. Não adianta agora se lamentar, nenhum táxi passa nesses momentos. Nem táxi, nem gente. Alguns carros passam correndo, caso algo acontecer em uma dessas calçadas ninguém notará. Mais uma esquina passou. Um certo alívio, já é possível visualizar o prédio. Aperta o passo, vê um vizinho saindo. Entra rapidamente no prédio e agora está salva. Tranqüilidade, hoje nada aconteceu.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sabe... há um tempo atráz estava voltando a pé de uma festa. Eram umas 3 horas da madrugada e o Gustavo estava comigo. Por acaso estavamos bem perto da tua casa e lembro que pensei algo como "po, nem é tão inseguro assim essa zona". Não tinha ninguém na rua. Acho que tudo isso é mais sensação do que resto. Acho que é mais fácil um carro passar em cima de ti.
Na verdade, eu tenho um medo constante, que sempre me acompanha. Por isso não noto tanta diferença quando é denoite.
E pelo amor de Deus, o Fantástico já traumatizou gente demais. Eles são feitos pra isso.
Depois de escrever isso tudo me ocorre que essa tua história pode ser fictícia. Bom, azar!

22/7/06 17:20  
Anonymous Anônimo said...

ela não devia terminar a história. Imagina que legal a gente nunca saber se ela chegou bem em casa.

22/7/06 18:11  

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