Seres humanos, será que dá para generalizar? O vizinho de cima, o professor de pesquisa, a minha amiga do segundo grau, minha mãe, eu, você. Além do corpo semelhante, do polegar opositor e da linguagem, será que dá para encontrar outras várias semelhanças? Há alguns anos li “Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus”, ou seria o contrário, e encontrei a divisão mais clara e bem feita da humanidade. Na época estava saindo de um relacionamento um bocado longo e o livro me ajudou a perceber os motivos que haviam nos levado a ruína. Na realidade, o motivo era um apenas: acreditar que homens e mulheres são iguais e que as diferenças não são importantes. Foi uma leitura bastante dolorida, pois vez que eu repassasse seis anos de convivência e visse cada erro meu , que até então desconhecia, fez com que eu entendesse que ele não havia errado sozinho, que havíamos sido cúmplices nos erros e, principalmente, que aquele relacionamento que eu acabava de dar fim não fora fadado ao término desde seu nascimento, mas levado a isso devido às incompreensões mútuas e a tentativa de entender o outro como um igual. Realmente, foi a leitura mais dolorida que me lembro de ter feito, cada página era um rio de lágrimas. Talvez seja incompreensível para alguns o tamanho da dor que eu sentia; porém, tentem acompanhar o que acontecia. Como tantos outros, aquele relacionamento não acabara por falta de amor, ao contrário, amor era a única coisa que restara, o que não restara era paciência para o cotidiano, era força para lutar pela paz e entendimento. Uma coisa me apaziguava a alma, era acreditar que ele fora fadado ao fracasso e pronto e que, portanto, nada poderia ter sido feito além do que já fora. Quando comecei a ler aquele livro foi mais como “ta, eu leio”, já que uma colega mais velha insistia muito que eu deveria lê-lo. Na realidade tinha uma aversão a esses livros com ares de auto ajuda, pois eles sempre parecem dizer o que já sabemos e isso me irrita muito; além do mais, a teoria de que homens e mulheres são diferentes ia totalmente contra meu radicalismo feminista da época. Todavia, a cada página o livro me demonstrava exemplos bem práticos e conhecidos de comportamentos de cada um dos gêneros, ali eu enxergava meu ex namorado, meu pai, meus amigos e, em contrapartida, via minha mãe, minhas tias, amigas e colegas e, por que não dizer, eu mesma. Ele explicava cada comportamento que me parecia idiota do sexo masculino e mostrava que eles tinham sentido e mostrava como eles geravam desentendimentos, pois as mulheres de um modo geral os achavam idiotas e não entendiam os significados embutidos. Da mesma forma, tratavam nossos comportamentos e me mostravam que talvez não era má vontade dos homens comigo, eles simplesmente não conseguiam perceber o mecanismo feminino. Terminei o livro com a idéia de que todos os homens que eu me dispusesse a amar deveriam lê-lo, começando pelo meu pai, o único homem com o qual eu mantinha um relacionamento próximo na época. Demorei algum tempo para convencer meu pai que um livro de auto ajuda poderia ser bacana e que poderia ajudá-lo a compreender essas mulheres malucas que o rodeavam. Tipo, meu pai lia Freud e livros de psiquiatria para tentar compreender o ser humano e biografias históricas para se divertir. Ele gostou bastante do livro e até tentou que sua esposa lesse, mas essa é outra história. Meu próximo namorado, depois disso, havia lido o livro. Não posso me queixar que ele não entendesse as mulheres, alias o que faltou nesse caso foi o tal do amor que, apesar de não conseguir salvar relacionamentos, ao meu ver, junto com o sexo é o essencial para qualquer tentativa de relação feliz, mas isso é só uma teoria.
Depois de alguns anos, alguns relacionamentos, algumas dores a mais, não vejo o livro mais como imprescindível. Alias, cinco anos depois, talvez, nem eu gostasse dele. Entretanto, continuo acreditando que a melhor forma de entendimento entre homens e mulheres se baseia em tentar entender que o outro não é um igual, é um ser que pensa, reage, sente de forma diferente. Todavia, essa é apenas mais uma teoria sem provas científicas.